segunda-feira, 17 de março de 2008

A Copa Pesada













Era um 'caça-nuvens' sem remédio. Sempre a ver quais ligações reveladoras poderia descobrir entre os meandros da vida. Tolo. Fazia registos meticulosos de correspondências remotas nos padrões do crescimento das plantas, ou perscrutava os sons da mesma matéria mas em espaços diversos para discernir o que os unia, porventura. Achava que a 'teoria dos strings' continha a solução e que as singularidades seriam um conceito pouco elegante, e demasiado humano. Mais tarde, deu-se ao trabalho de estabelecer congruências de padrões entre escalas de grandeza muito distantes. As vezes parecia que andava a procura de uma espécie de receita, vagamente alquímica, de forças místicas, - mas não. Segundo os relatos de pessoas próximas, apenas queria apanhar um cantinho que seja, e muito fisicamente, da dimensão mais acima. Não estava, esclarecia ele aos amigos, a falar do tempo, porque esse sempre seria aquela dimensão acrescida às outras, seria ele subjectivo ou enlaçado no espaço curvo, mas sim, sobraria sempre como veículo do movimento e da evolução.
Queria ficar com os dois pés no chão, mas interrogava o chão.
Não era o primeiro, sabia-o, bastava-lhe olhar para o Simultaneismo de Braque e Picasso, que inventaram na altura quando o Einstein se saiu com a sua primeira teoria, para perceber.
Sempre gostara do 'Uroboro', da serpente que morde a cauda, por unir o que está distante. Era um dos padrões transversais.
Tanto quanto eu saiba, ainda anda nessa - 'demanda' - um pouco insólita e distante da vida, mas para ele, se calhar, não é. Ele é que deve estar - à margem - quero dizer: Funciona, desempenha os papéis que os outros lhe impõem, mas assim quase por 'requisição' em vez de ser por vocação.

1 comentário:

osátiro disse...

Ora aí está um texto com imaginação...