segunda-feira, 28 de julho de 2008

Luzar














Enquanto que uma pessoa não se veste para o dia, encara a noite despida.
A sós, ou com amigos, amantes, ou queridas de sempre, para sempre, como se reza.
A Lua se faz acompanhar, ainda não do Marte Guerreiro, e certamente não da Vénus velada, talvez de um Júpiter em tempestade, ou de um Saturno conflituoso,...para colorir a prata lunar a derramar-se sobre o rio sonhado.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Ombros Caidos e Anca Solta




















Algumas noites acontecem assim, desprendidas, e a digerir em passada morna.
Sem pressas, sem 'Bruta Flor', sem remorso de perder a noite.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Nem Mais?










O mundo vai acabar.
Vai mesmo, sei.
Assim não continua.
Já chega de saque, já foi demais, até.
E todos fizemos parte.
Ponto.

Os edifícios são o Banco Santander e o 'Four Seasons'

terça-feira, 15 de julho de 2008

O Nome no Passeio

Adoro montras.
Daquelas do comércio tradicional, do bairro sem ser alto, que nos atende, com sorte, com um sorriso de verdade, um comentário sobre a vizinhança ou o tempo, ou o estado da nação. Depois, também queremos qualquer coisa por sermos cliente que entrou pela porta com um objectivo específico. A cidade já é tanto de cortes no Ideal, já tanto de rudimento de boas intenções, já tanto de cedências convenientes,...que uma pessoa se refugia no meio pequeno para se sentir 'em casa', 'no bairro' que é a casa estendida e que vive da mão estendida e de fricções de empatia, da antipatia. Mas a emoção tem destino, bom ou mau, dirige-se a uma 'pessoa'. Tem face.
Comecei com uma ideia e acabei com outra. E pronto, não é grave, vim da tasca da rua de cima.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

s.T.










George Michael já tinha cantado a balada, a aconchegar-se na brisa que sobe pela colina acima, quando ela - que também é brisa, mas sobretudo mulher - foi pagar a minha amêndoa-amarga-doce-alimonada... os enfeites de Santo António hão de ficar até ao ano que vem, o fluxo de pessoas a volta da estação esmoreceu, os vizinhos do costume não estão. Também nós seguimos com a brisa.

My Little Home










quinta-feira, 10 de julho de 2008

Carne II













As vezes, esturrica-me por baixo. Não vai para a retina, mas directamente para as entranhas. Que raio de sol subterrâneo é esse. Plenitude visceral, cega-me, oblitera a minha aura esférica, supondo que tenho uma algures que me eleva e enaltece.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Passagem Subterrânea










Eu sei, nada é novo. A sucessão é infinita. E uma pessoa esgueira-se por entre camadas do pretenso novo, passado após um dia, sem confirmação da fonte, da presença pessoal, do olhar directo. Somos rasgados pelo não estar, na altura, à altura, e do conhecer. O desfile da efémera actualidade dilacera o aconchego. Somos velhos antes do acordar da festa. Renascemos na madrugada do conhecimento. A luz cá em cima é mais suave e queima a retina quando se fecha os olhos.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Achado










O pátio desta tasca recorda-me sempre o mesmo, de que a vida imita a arte, e não ao contrário. Mas claro está que não é assim linear e chapado. A arte bebe na vida, sorve a, destila e digere o que encontrou, transforma e devolve mais limpo e apurado, de forma que a vida já se pode espelhar na obra e ficar toda vaidosa.
Olho para este cantinho formidavelmente rico, e lembro-me de um Cabrita Reis, ou outros seus semelhantes, que lhe descobriram noutros lugares e noutros contextos a essência e o dizer mudo.

Particularmente aqui, espanta-me a genuína força criativa anónima, o impulso da originalidade a rebentar por entre o não saber como e o desgaste do dia, como se fosse uma erva a crescer de uma racha no alcatrão. Nesta frente de altar, ou balcão, não há polimento, nem arestas limadas. Apenas um plano geral e muita improvisação. A liberdade tomada de assalto pela surpresa. O pensar direito sucumbiu com um riso feliz.
Deve ter sido depois, que vieram outras necessidades de função. Impuseram-se os acrescentos sucessivos, os materiais de recurso, o ajeitar e anichar no espaço possível, até que 'a coisa' cresceu para corpo autónomo dentro de outro corpo, enigmático e quase desagregado.

O vinho é de jarro, a comida caseira, e a simpatia é de contenção agradável.