domingo, 29 de junho de 2008
O Fazer (como)
Pintar a uma escala assim é algo de deslumbrante, físico, visceral. Transcende o imaginado e faz-se real. O corpo extravasa-se no gesto generoso, passos de dança e labor a fugir do rasto da intenção. Deixar correr o sangue feito matéria colorida, lutar com a poeira que o vento deposita enquanto se confrontam água e calor. Tudo aglutina-se num resultado do processo perscrutor do espaço, e contra o tempo.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Augúrio e Fruto
Á sério, ele próprio não sabe o que 'pensou' naquela altura. Não era altura de pensar, apenas de fazer e deixar fluir. Todo o ambiente era propício a isso. Vivia, com um colega e grande amigo ainda hoje, no meio da serra, com água da cisterna e Petromax, dois bancos de madeira e uma mesa de fórmica (das camas não se lembra como eram), e trabalhava - entre outras vivências. No fundo era tudo a mesma coisa, tudo enlaçado, como se sonha e pretende. Havia teorias, claro, e conversas daquelas fundamentais que marcam a vida depois. Não havia era planos ou estratégias. Era a construção desprendida, um pouco ingénua, sim. Era a savana.
Foto com autorização de A.S.
terça-feira, 24 de junho de 2008
sábado, 21 de junho de 2008
O muito longe vem sempre em paralelo
Não durou muito...
Esse meu amigo lá teve essas manias de plantar improvisações destas nas práias, à volta tudo cheio de tendas, tipo casinhas com alpendre que até se viu negro para tirar a foto. Foi olhado e aceite. Acreditava que a parabólica tivesse um significado. Nem imaginava que estes pratos iriam fazer parte de qualquer paisagem uma década depois. E com a democratização foi-se o significado. Tornou-se corriqueiro. Qual sentido Zen, qual espiritualidade transcendente? Ainda hoje conserva uns cacos de azulejos, fragmentos do sentido, que estavam - na altura - colocados por baixo dos seixos. Primeiras experiências... acho que, no seu íntimo, também ainda conserva uma certa nostalgia, mas não fala disso.
Foto publicada com autorização de A.S.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Deriva
Reencontro-me na reaproximação dos braços do tempo.
Talvez sejam espirais de correntes num mar que parece liso. O que me arrasta, seja um diferencial térmico. Ando à deriva ou nado contra a maré, as vezes apanho uma onda, ou nado em sentido transversal e reencontro um ramal meu passado, ou um alheio simultâneo, ou um futuro que já era adiado.
O tempo assim não é uma seta linear, seria visto como dimensão explanada, igual às outras pela qual me movo, flutuante também - dentro da estrutura cristalina - na percepção subjectiva.
Gosto de semear no tempo alheio, com a confiança de reverberar onde não ouço,
agora.
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segunda-feira, 9 de junho de 2008
Tempo
Voraz
O tempo é uma criatura...
Aguarda sob o verde limo,
à sombra de folhagem, de ramos
lançado sobre o rio da preguiça.
O tempo respira o odor da presa,
gazela fina, porco da savana,
por narinas como pau - raiz de podre...
jaz imóvel tal, que gretas no seu couro
já empastam do lodo em suspensão
do rio da preguiça.
O tempo olha com âgatas polidas e rachadas pelo meio,
lambidas pelo horizonte
............do espelho que reflecte o esplendor...
- espreita sem mexer,
- aguarda com paciência milenar
no rio da preguiça.
O tempo é um crocodilo
que desperta na hora do incauto,
explode projectado pelo espelho,
voraz...
apodera-se do desatento
com mandíbulas e sem perdão.
Não cortam, não trincam, não escalpelizam carne...
torcem-na até soltar...
02.07.2003
O tempo é uma criatura...
Aguarda sob o verde limo,
à sombra de folhagem, de ramos
lançado sobre o rio da preguiça.
O tempo respira o odor da presa,
gazela fina, porco da savana,
por narinas como pau - raiz de podre...
jaz imóvel tal, que gretas no seu couro
já empastam do lodo em suspensão
do rio da preguiça.
O tempo olha com âgatas polidas e rachadas pelo meio,
lambidas pelo horizonte
............do espelho que reflecte o esplendor...
- espreita sem mexer,
- aguarda com paciência milenar
no rio da preguiça.
O tempo é um crocodilo
que desperta na hora do incauto,
explode projectado pelo espelho,
voraz...
apodera-se do desatento
com mandíbulas e sem perdão.
Não cortam, não trincam, não escalpelizam carne...
torcem-na até soltar...
02.07.2003
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sexta-feira, 6 de junho de 2008
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Toque Humano
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Esquina Íntima
Depois, contorna-se uma esquina, graciosamente, com elegância e saber, saber antigo, quase visceral, quase apenas sentindo que se faz bem, sem nomear os critérios racionais.
Por intuição.
Por experiência.
Por vivência subconsciente.
De repente pausado, e a olhar de modo diferente,
as cores mudam e a luz se suaviza na ternura da sombra violeta-ultramarina.
Descanso sem razões de poder.
No recuar das arestas está o segredo do sublime.
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