quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Augúrio

... e sabes que mais? O gajo vive mesmo através das sombras do real. Desfocado, claro está, e plano, e cinzento. Tem a luz sempre pelas costas. Certo dia, lá por aquilo que ele chama dia, apanhou um espelho pela frente e não o compreendeu. Achava que... com' é que explico...enfim, deduziu lá na lógica dele que a imagem seria certamente uma projecção de dimensões superiores. Não se reconheceu sequer à primeira, foi preciso ir pela sua silhueta, pela postura do corpo, por tudo que conhecia da sua sombra, pela maneira de se mexer, por uma madeixa de cabelo destacada no topo do crânio ... só por esse tipo de indícios na silhueta da habitual sombra é que se convenceu. Vê lá, chegou ao ponto de, por ter descoberto um conteúdo colorido e de formas discretas na silhueta, achar que estava a ver o seu interior, alma e espírito incluído. Baralhou-se, ficou pior ainda do que já estava antes. Era mesmo só olhos, nunca sentiu nada - nem com corpo, nem por alma, nem no espírito - digo eu. Só pode, sei lá. A última coisa que ouví - através dum fulano que lhe dá explicações sobre a teoria do Origami - é que, alegadamente, consegue ver os decaimentos aleatórios de fotões e electrões e dessas coisas na sua própria retina, mas só depois de violentos espirros.
Olha, está uma tarde tão boa, vai um Gin-Tonic lá fora?

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