quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cool Blood

Nos últimos tempos assiste-se de novo a uma imagética, diluente do plano do suporte da imagem. Isto quer dizer: Não basta iludir o observador com trompe-l'oeil's de um espaço fingido, mas enquanto espaço sugerido, ele assume-se como plano pictórico.
Não há fingimento de outra coisa senão o da superfície única. A ilusão está no espaço que se finge plano e linear.
É a superfície que se dissimula: num espaço de múltiplos layers, no espaço urbano que nos assalta através de montras, placares, ecrãs, fachadas, telas de fachadas em reconstrução, vidros espelhantes, e passagens entre volumes.
A visão da cidade, a sua vivência, é um ecrã de computador com muitas janelas abertas, e com a simultaneidade assumida.
O percursor desta percepção foi sem dúvida para mim M.C.Escher, lithógrafo e desenhador holandês e que morreu em 1972. Todos conhecemos os seus trabalhos, sem saber já de onde vieram.
Fizeram o chão que pisamos: a escada em subida eterna quadrangular, a queda de água auto-alimentante, as mãos que se desenham mutuamente, as metamorfóses em tapetes padronizados - nos quais
até se inspirou o matemático Walter Penrose na elaboração dos padrões de enchimento de planos (infinitos)...ou foi vice-versa?
A sua constante interrogação da fronteira entre a realidade e a sua representação, das contradicções daí decorrentes, e da subtil pergunta em qual delas existimos, faz de nós actores - vagueando entre animal condicionado e ser pensante.
Em - quase - última análise, o que está em causa é a relação entre a imagem artificializada que projectamos de nós, e o âmago do nosso ser despido.

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