quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Escavar























Quanto mais poderosas as ferramentas, tanto mais entulho há de remover. Algumas obras são embargadas pelo caminho, outras são limpas por lágrimas. Umas mantêm a fachada, reforçada com vigas de ferro, contornam a casinha da avó, descuram a arqueologia. Por vezes, porém, uma obra cava um poço ao centro da terra em forma de funil, e no fundo espera o leão das formigas.
O fio de Ariadne pode ter a grossura de um braço estendido.
Arrisca-se tudo, e de olhos abertos. Depois se poderá dizer com orgulho: 'já estive.'

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fugaz
























Uns 7 segundos enquanto alguém tira uma fotografia, algures, num tempo perdido de inexperiência genuína. Conservo o momento como documento fugaz da nudez. Já despi, de então para hoje, os anos de conceitos rebuscados de teorias longínquas.
Faz-se o círculo.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Layers Do Ser

















Falam das máscaras como se fossem disfarces, mas considero a máscara o cerne do ser - exteriorizado, assumido, encenado, cristalizado,... - até que aparenta ser um disfarce.
Tem poder, manipula e assusta, amedronta e põe à distância, seduz e cativa.
É uma ferramenta do estar com os outros, para gerir as relações.
Nunca vem sem razão, sempre é fruto de convivências anteriores, e de conveniências do momento.
O velho poder do Xamanismo...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Aquela Mááquina...


















O comentador Ricardo Costa ficou 'assustado' por Barack Obama nunca ter falhado durante as suas campanhas todas, de traçar um objectivo e seguí-lo, de ter sido campeão de angariador de fundos e apoios e de voluntários de campanha, de ser 'uma máquina'. ...? Ser eficaz é ser máquina??? Ter convicções e querer mudar a tonalidade da conversa é ser máquina? Conseguir gerir entusiasmo à volta de ideias de intelecto elevado é ser máquina? Saber transmití-las e ser bom comunicador é ser máquina? Ser voluntarioso e mostrar afecto...? Há pessoas que se assustam com o espelho das suas próprias convenções. Ou será que se assusta, porque o Adolf Hitler também conseguiu gerar os consensos na altura e foi muito eficaz?
Mais disse o comentador - mas nisso já não estava só no mundo todo - que o discurso do novo presidente dos Estados Unidos da América não tinha nenhuma frase-chave a marcar o momento. Pois não, foi um discurso de atitude humilde em que a palavra 'nós' prevaleceu, um discurso de conciliação (ao contrário do supra-mencionado...) e de esforço conjunto. E, mesmo assim, retenho como imagem-chave o seguinte: 'Estendemos a mão a quem esteja disposto a abrir o punho'. Acho formidavelmente sintético como estas poucas palavras traduzem a atitude e a determinação subjacente.
Expectativas desmesuradas à parte, senti o dia de hoje como a queda do(s) muro(s), como um alívio de tensões. Porque mudou a atitude de base, a visão, a raíz, a arte do possível, o querer.

domingo, 18 de janeiro de 2009

O Umbigo


















Tem o tamanho de uma pessoa enrolada

O que nos moveu...

















Pois bem, o desafio foi fazer essa pergunta e fazer a introspecção. Vasculhei nos primórdios pós-infantis, e entre muitas digestões de imagens exteriores, encontrei esses espelhos a reflectir o mundo. Pequenas bolhas da realidade que já mencionei noutro post. Acho que já fiz várias vezes o círculo completo, mas claro que nunca é igual. Reencontramo-nos apenas no braço de uma espiral. Pior é se a espiral vai no sentido contrário ao expansivo...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Cinco Cães...
















Há mais de 25 anos ví uma cena assim num filme de SciFi chamado 'Quintet', com Paul Newman (!...sim, é verdade). Para os perdedores do jogo os enterros seriam assim, lançados aos cães na neve permanente fora das muralhas.

A actualidade fora das muralhas ...

(desenho de 1983)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Glória Soturna























Os andares de cima resguardam-se no silêncio soberano, enquanto que cá de baixo se vê as estruturas corroídas que as sustentam. Aqui passa-se a vida rés-de-chão e a fazer-de-conta, por vezes. Sabe bem, e merece-se. Ascende-se sobre as supostas ruínas. Canta-se de galo sobre um monte de esterco (conquistado).
Ostenta-se...marcas e exclusividades. É-se SNOB (Sine Nobilita ?). A água só pode ser de uma marca, o resto vem de arrasto.
Todos queremos subir andares, mas poucos querem subir de escada, sem que seja de escadaria.

Perdoem-me que estou amargurado, desiludido, desalentado com a natureza humana. Já tenho idade para dever saber melhor, mas insisto pensar que a desilusão é apenas um exercício de estilo, não demove da motivação primordial, nem define vencedor. Não considero ser um erro ter uma ilusão porque nos alenta durante o tempo necessário e útil. A arte está no saber largar. Larga-se no silêncio, sem peixerada, sem voz. Já está...com uma minúscula salvaguarda.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Quatro Gestos

Acontece, às vezes, que o impulso do fazer está só. Não sabe onde ir, apenas quer. Quer inscrever-se num suporte, marcar presença, existir. Acontece, apenas - e com pretexto vago e longínquo fora de si.
Espelha-se sem nexo, solto, perdido, fica raivoso, mais impetuoso, quer rasgar, desautorizar os limites. Desenquadrar-se sem regra.
Na reflexão contém-se, centra-se, expande e contrai, respira... inspira, apodera-se da sua alma.
Na expiração expande e toma direcção, abarca o suporte sem reconhecer-lhe o poder. Dirige-se...